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Micropoder em “Roma”

Atualizado: 12 de set. de 2019

Roma (2018) é um filme escrito, dirigido, filmado, montado e produzido por Alfonso Cuarón, conhecido por filmes como E sua mãe também (Y Tu Mamá También, 2001), Filhos da Esperança (Children of Men, 2006) e mais recentemente Gravity (2013). Se você ainda não ousou assistir essa bela obra distribuída pela Netflix, talvez pelo medo de seu ritmo lento, eis o enredo. Roma segue a vida de Cleo (Yalitza Aparicio), a empregada de origem Mixteca de uma família de classe média mexicana que vive no bairro de Colonia Roma na Cidade do México nos anos 70.


Roma e Foucault

Roma é primeiramente a história de uma mulher. Levando uma vida simples, Cleo vive em função da família para a qual trabalha. Ela não apenas limpa as fezes que o cachorro da família deixa garagem afora, ela cuida de cada uma das quatro crianças com afeto profundo. No pouco tempo que Cleo parece ter livre, ela troca confidências com sua colega de trabalho e amiga Adela (Nancy García García). É graças à Adela aliás que Cleo conhece Fermín (Jorge Antonio Guerrero), de quem engravida. A narrativa pode parecer relativamente banal, e no entanto a história de Cleo, que reflete a história de tantas outras mulheres, é acima de tudo extremamente pessoal: trata-se da vida de Libo, empregada da família do Alfonso Cuarón. Neste sentido o filme é autobiográfico, mas ao invés de contar suas próprias lembranças pessoais, Cuarón narra a história de alguém cuja voz foi sempre silenciada pelas circunstâncias da vida. A família que vemos no filme é justamente a família de Cuarón – Cuarón sendo o segundo filho mais velho – e o filme é, portanto, o espelho de duas memórias que se cruzam: a de Libo e a de Cuarón. Cuarón expressa contudo não o seu ponto de vista infantil, mas a perspectiva dele adulto, que hoje, consciente do contexto social e racial da sociedade na qual vivia e vive, observa as vivências de Libo sob outra perspectiva. Tal caráter memorial do filme é expresso por uma direção de fotografia excepcional em preto e branco translúcido (extremamente bem trabalhada pelo próprio Cuarón aliás). O talento de Cuarón também pode ser percebido na forma como ele movimenta sua câmera, seja com planos panorâmicos, travellings, close-ups e planos-sequência. O "olhar"de Cuarón nunca julga, ele simplesmente move-se de forma fluida, como um fantasma que flutua por todos os lados. Além da fotografia, outras escolhas técnicas conferem ao filme um tom de nostalgia que poderíamos ver quase como uma homenagem ao Neorrealismo Italiano dos anos 40, cujas obras coincidentemente também apresentam uma forte conotação social. Como em filmes do Neorrealismo, aqui também encontramos a opção por atores não profissionais e cenários exteriores, ao invés de estúdios. Essas características conferem à narrativa o realismo do qual ela tira sua força. Além disso a atuação de Yalitza Aparicio pode parecer estranha, até incômoda, aos acostumados com o cinema hollywoodiano, mas justamente graças à sua simplicidade e sobriedade, ela expressa reações com muita autenticidade, e não de maneira exageradamente “reprodutiva” como atores de longa data tendem.


Mais do que o retrato de uma vida, Roma é a manifestação das complexidades de uma forma de organização social. Existem diferentes tipos de relação entre os diversos personagens e eles variam segundo contextos diferentes: classe social, pertença racial, gênero sexual. Como explicar essa complexidade? Antes de analisar como essa questão aparece no contexto do filme, proponho que demos uma olha no que o filósofo francês Michel Foucault (1926 – 1984) - famoso por sua careca - tem a nos dizer sobre as relações que estabelecemos socialmente, algo que acredito que poderá nos ajudar a entender melhor a complexidade da trama do filme. Segundo Foucault na sua obra Vigiar e Punir, em todo relacionamento existe uma relação de forças, de forma que o poder não é algo que possuímos, mas algo que se estabelece em função da forma como cada interação é constituída. Se as teorias políticas clássicas costumam identificar o poder com instituições específicas como o Estado ou a Igreja, para Foucault o poder resulta sobretudo de processos de interação pessoal entre os indivíduos, de forma que ele é omnipresente: “O poder não é concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos à uma "apropriação", mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos” (Vigiar e Punir). Por isso o poder é uma prática que funciona na maior parte das vezes como manutenção de uma certa ordem social pré-estabelecida e legitimada por nós mesmo através de nossos comportamentos, falas, ações, etc., como veremos abaixo. Assim, para Foucault o poder não é apenas uma força política exercida por instituições específicas, mas parte dele se manifesta em “miniatura” em todas as interações cotidianas sob a forma de micro-poder. Esses micro-poderes são exercidos por certos indivíduos (por exemplo, dos professores sob os alunos, dos homens sob as mulheres, etc.) e por certas instituições (como as prisões, as escolas, os asilos, etc.) e são endorsados por discursos que criamos para justificá-los. Assim, enquanto a forma de manifestação do poder politico é caracterizado pela repressão e imposição de leis, o micro-poder, ao contrário, se manifesta de maneira sorrateira, através de um conjunto de práticas, mecanismos e dispositivos que reproduzimos socialmente diariamente, frequentemente sem nem nos darmos conta: “Esse poder, por outro lado, não se aplica pura e simplesmente como uma obrigação ou uma proibição, aos que "não têm"; ele os investe, passa por eles e através deles” (Vigiar e Punir). A normatização do micro-poder ocorre de tal forma que varias vezes mesmo o próprio “dominado” reproduz discursos que justificam sua dominação: “Temos em suma que admitir que esse poder se exerce mais que se possui, que não é o "privilegio" adquirido ou conservado da classe dominante, mas o efeito de conjunto de suas posições estratégicas - efeito manifestado e às vezes reconduzido pela posição dos que são dominados” (Vigiar e Punir).



As mulheres de Roma

Em Roma essa forma de manifestação microfísica do poder aparece em quase todas as relações entre os personagens: na forma autoritária dos pais com os filhos, na distância imposta pelos patrões aos empregados, na negligência de Fermín com relação à gravidez de Cleo, etc. Isso acontece porque o poder se entremeia de maneira microfísica em nossas interações pessoais diárias, que são sempre constituídas por uma correlação de forças, como se cada interação fosse um cabo de guerra. Cada conversa, cada gesto é uma partida diferente na qual ambas partes têm a mesma "quantidade" de força, mas nossa sociedade é constituída de tal forma que na maior parte das vezes uma das partes já relaxa sua parte da corda antes mesmo de tentar tirá-la, acreditando que a outra parte certamente "tem" mais força. Em toda relação entre marido e mulher, por exemplo, existe uma certa dinâmica de poder que é o resultado de um conjunto de estratégias que se sedimentaram e criaram os moldes do que consideramos ser a instituição do casamento heterossexual. Esses moldes foram inventados, melhorados, transmitidos, imitados e aplicados, de tal forma que, por exemplo, mesmo nos dias atuais, ainda prevalece a ideia de que o marido é o agente ativo provedor e que tem portanto direito de tomar decisões, enquanto a mulher é a instância passiva que “apenas” cuida e auxilia. O mesmo acontece na relação entre pais e filhos, entre gêneros sexuais distintos ou mesmo na forma como lidamos intimamente com nossos próprios corpos. Por exemplo quando acreditamos que masturbação é uma atividade “normal” para os homens, mas rara ou mesmo mal vista para mulheres. O que Foucault nota é que nenhuma dessas relações teria necessariamente de ser assim. Um homem não tem mais poder que uma mulher, mas existe um conjunto de estratégias (isto é, mentalidades, comportamentos, falas, etc. que reproduzimos) que torna possível ao homem de se colocar numa posição de superioridade sob a mulher. Esta posição não é portanto um privilégio adquirido pelo homem, mas mera consequência de estratégias que legitimam essa posição (nós mesmos sendo os legitimadores).


Em Roma existe um relacionamento que é especialmente complexo porque nele várias formas de relações de poder são expressas : trata-se da relação de Cleo e Sofia (Marina de Tavira). Do ponto de vista socio-econômico, Sofia nos parece profundamente condescendente com Cleo, o que é alias uma característica comum ao tratamento às classes mais pobre por grande parte da classe média/ alta. Dado que Sofia trata Cleo da perspectiva do patrão que emite uma ordem, sua maneira de falar e de se comportar com Cleo é vertical. Isso é notável em várias cenas, mas marcante sobretudo na cena da família que assiste um filme na televisão e na qual Sofia pede que Cleo busque um chá ao marido, incomodada com Cleo que se encontra sentada e abraçada a uma das crianças, como se fosse parte da família. A condescendência e rispidez de Sofia nos parece contudo mais como o resultado de uma forma inconsciente de comportamento burguês, do que expressão de um traço da personalidade de Sofia ela mesma. Isso, é claro, não isenta Sofia da responsabilidade de suas ações petulantes, mas mostra justamente algo que Foucault nos explica. Nossas pequenas práticas sociais cotidianas tendem a corroborar uma certa forma de relação entre classes mais baixas e classes altas segundo a qual pessoas mais pobres são vistas como "inferiores". Vide o exemplo acima, de uma situação banal na qual empregados e patroes assistem um filme juntos. O comportamento de Sofia é apenas a reprodução de uma atitude moldada e socialmente aceita , de alguém que faz parte de uma classe superior e que contribui para a manutenção desse status quo, garantindo que a classe média/alta siga exercendo poder na sua relação com classes mais pobres. E quando Sofia age da forma como age, gritando com Cleo quando sua vida a irrita ou ignorando sua existência quando a convêm, ela endorsa essa relação de força.



Mas apesar de reproduzir um comportamento burguês arrogante, o afeto de Sofia por Cleo nos parece genuíno. Esse afeto parece se aprofundar graças à solidariedade que nasce entre as duas devido à situação que cada uma vive com seus respectivos companheiros. Assim, do ponto de vista feminino, Sofia e Cleo sentem empatia uma pela outra. Digamos que nessa partida de cabo de guerra, nenhuma das partes nem sequer deseja tirar a corda, que é jogada ao chão. Ambas vivenciam relações amorosas instáveis com homens que se mostram covardes e egoístas. Tanto Antônio (o marido de Sofia) quanto Fermín não assumem as consequência de seus atos – o primeiro com relação à família que criou, o segundo com relação à namorada que engravidou – e abandonam suas companheiras, que se encontram de repente completamente sozinhas, a primeira com 4 filhos para criar e a segunda com uma gravidez para lidar. No contexto do filme, vemos que as ações dos homens são expostas como resultado de um fato aberrante: os homens parecem sempre poder se dar ao luxo de simplesmente partir. Isso acontece justamente porque, como Foucault mostra, existe uma dinâmica nas relações entre homens e mulheres - e que é constantemente mantida por nossas práticas sociais, atitudes e mesmo nossos discursos - segundo a qual as mulheres são automaticamente responsáveis pelos filhos, mas não há nenhuma “norma” social que estabeleça que o homem tem uma parte de responsabilidade igual. A negligência dos homens é sempre justificável, graças à posição de superioridade que lhes é conferida. Essa superiodade é legitimada por várias pequenas açoes. O primo de Fermín sabe que ele engravidou Cleo, e contudo em nenhum momento parece agir como se a atitude de seu primo fosse irresponsável (ao contrário, ele tenta até mesmo esconder o primo de Cleo). Da mesma forma que os amigos de Sofia sabem que seu marido a deixou e no entanto, durante o Réveillon, um de seus amigos tenta beijá-la ao invés de reconfortá-la. Esses comportamentos parecem insignificantes, mas são justamente essas atitudes que manifestam o micro-poder, mostrando que em cada pequena ação que realizamos corroboramos (ou não) uma forma de relação que inferioriza uma das partes.



A realidade de Roma

Mas Roma não é apenas a história de uma mulher. Roma é a história de uma forma de organização social. O foco central da narrativa é certamente a vida de Cleo. Mas entorno dessa existência há todo um contexto social (e histórico) mexicano que inicialmente parece ser apenas um detalhe da história, e portanto essas pinceladas de realidade nos oferecem pistas sobre o comportamento dos personagens, porque elas nos explicam o funcionamento da sociedade na qual eles estão inseridos. Deste ponto de vista, a vida de Cleo poderia ser vista como “um fio de uma rica tapeçaria”. Essa tapeçaria é destacada em vários momentos. Durante o “Massacre de Corpus Christi” Cleo sai do enquadramento, mas a câmera permanece na mesma posição, focando em uma mulher soluçando enquanto segura seu companheiro assassinado em seus braços. Em outra cena, depois que Sofia diz a seus filhos que ela e seu pai estão se separando, a família tristonha compartilha um sorvete do lado de fora do restaurante. Atrás deles, um casal recém-casado celebra suas núpcias com uma banda e convidados dançantes. O contraste entre as duas situações é irônico. Mas é em uma das primeiras cenas que essa tapeçaria é flagrante. Cleo faz uma pausa na lavanderia e deita-se ao lado de Pepe, ambos fingindo de mortos no telhado da casa. A câmera se move e no fundo vemos empregadas em uma dúzia de outros telhados lavando e pendurando roupas. Roma pode ser especial por colocar uma mulher como Cleo no centro de sua narrativa, mas esta sequência sugere justamente que ela é apenas a ponta do iceberg, uma dentre outras. Todas essas mulheres têm histórias que certamente valem a pena ser contadas.



Estes exemplos evidenciam a banalidade do micro-poder, que se encrusta em cada pequena situação aparentemente normal. Seja nos patrões, que podem se dar ao luxo de contar com empregadas que cuidem de todas as suas necessidades; seja no governo que pode se dar ao luxo de negligenciar a morte de seus indivíduos; seja no casal recém-casado, que representa a esperança na possibilidade de uma relação “marido/ mulher” que não reproduza as desigualdades vividas por Sofia em seu casamento. As três situações retratam interações cotidianas (empregada/ patrão, cidadão/ governo, marido/ mulher) que em si não são necessariamente injustas. Mas em cada um desses relacionamentos existe uma relação de poder que tende a se desenvolver na qual uma das partes é silenciada. Essa tendência é, como Foucault nos alerta, fruto da reprodução de discursos e de ações que normalizam essa desigualdade. Em nenhuma dessas relações uma das partes é superior à outra, mas existem dispositivos perpetuados socialmente que permitem à uma das partes de potencialmente se colocar em posição de superioridade sob a outra. A festa de Ano Novo é o melhor exemplo da normatização de uma forma de relação social desigual. Nesta cena é sobretudo a divisão de classes que se torna evidente. Enquanto as famílias se divertem na casa principal, os criados organizam sua própria festa no andar térreo – seguindo a divisão tradicional “andar de cima / andar de baixo”. Quando um incêndio florestal invade a propriedade da família, os criados se alinham em uma corrente, tentando apagar o fogo, enquanto os membros da família rica tomam vinho e assistem ao “espetáculo”. E portanto pessoas de classes altas não têm mais poder que pessoas de classes baixas, mas nossa sociedade se organiza de tal forma que acreditamos e legitimamos a superioridade dos ricos. É isto que permite aos ricos nesta cena de permaneceram apáticos, certos de que os empregados agirão de acordo com a crença na sua posição de inferioridade. Assim, os ricos não são privilegiados, eles simplesmente podem se dar ao luxo de exercer poder sob os outros porque existem praticas diárias que endorsam a crença de que eles têm o direito de possuir privilégio. Essa possessão é contudo uma ilusão.



Roma é a historia de uma realidade que vivenciamos diariamente. Em cada gesto, fala ou ação perpetuamos formas de relação de poder que silenciam uma das partes. Por vezes sem nos darmos conta, corroboramos através de cada uma de nossas interações cotidianas uma ordem social que tende a ser injusta e diminui a existência do outro. Cleo é uma dessas tantas vozes que são silenciadas e que portanto, sem emitir muitas palavras, tem tanto a nos dizer. Na sua simplicidade e doçura, Cleo nos ensina que o silêncio não significa ignorância, que afeto não significa ter o mesmo sangue, que paciência não significa indiferença e que a culpa não nos torna pessoas ruins. Acima de tudo Cleo nos ensina que a empatia destrói toda desigualdade social – mesmo que por instantes – e que na solidariedade encontramos os humanos que residem por trás da ilusão do poder. A empatia cancela a crença na superioridade de uma das partes do cabo de guerra, colocando ambas em pé de igualdade. Sofia e Cleo são duas mulheres igualmente abandonadas, igualmente humilhadas, mas sobretudo igualmente afetuosas e igualmente fortes. A solidariedade permite que elas se tornem acima de tudo igualmente humanas uma aos olhos da outra, dissolvendo o abismo que a relação “empregada/ patroa” estabelece. Quando Cleo anuncia sua gravidez à Sofia, esta não trata a situação do ponto de vista econômico de um patrão que vê na gravidez da empregada um empecilho, para surpresa de Cleo aliás. Esse afeto entre as personagens faz com que Roma se torne a expressão de uma historia que é pessoal, mas universal, porque a empatia que presenciamos na tela nos convida à “sentir” com Cleo. Trata-se de uma narrativa realista, mas onírica, visto que se trata de uma mistura de lembranças reais e perspectivas pessoais. O enredo é simples, mas complexo, pois mesmo se certos traços da vida de Cleo podem nos parecer banais, Cuarón valoriza toda a singularidade dessa banalidade através de um olhar cinematográfico magnânimo. Vemos “Cleos” por todos os lados: pessoas que cruzam nossos caminhos diariamente e cujas vidas nos parecem “desimportantes”, pessoas que tratamos com indiferença e até certa condescendência. Mas Roma nos alerta para o cuidado que deveríamos ter com cada um de nossos relacionamentos, pois tendemos a repetir um conjunto de práticas que inferioriza o outro e perpetua desigualdades. Como Roma nos ensina, todo ser humano é digno de um belo filme que expresse todo o esplendor de sua existência, porque uma bela existência não é um privilégio que pertence a apenas certos indivíduos. Cleo é a prova deste fato. Cleo é uma grande heroína não por ter altruisticamente salvo o pequeno Pepe no mar em uma das cenas finais. Cleo é uma grande heroína porque enquanto todos tentam em vão permanecer em equilibro enquanto levantam uma das pernas, ela simplesmente realiza tal ato em toda sua ingenuidade e bondade, e enquanto é ignorada pelos outros ao redor, que não se dão conta da sua proeza, Cleo segue seu caminho tranquilamente, ciente de que o poder é uma mera ilusão, mas inconsciente da grandeza de sua alma. E essa grandeza de alma é o que torna Roma uma bela obra.



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